Alexandre Herzog, nobre seguidor deste blog e meu bolsista de iniciação científica, e eu fomos ontem até Riozinho para observar de perto o projeto social que elegemos por lá. Essa foi a nossa primeira saída de campo para compreender mais de perto a musicalização que ocorre nos projetos sociais da região do Vale do Paranhana, que abrange as cidades gaúchas de Riozinho, Rolante, Taquara, Parobé, Três Coroas e Igrejinha. Elegemos em Riozinho o projeto música para a Comunidade, oferecido pela Secretaria de Educação para todas as pessoas que se interessarem em aprender a tocar violão. O objetivo é envolver crianças, jovens e adultos em atividades culturais, prevenindo situações de violência na cidade, uso de drogas, trabalhando a cultura local, etc.
Somos encaminhados pela Secretária de Educação até a sala onde ocorrem as aulas de violão. Várias crianças e adolescentes, com diferentes idades estão com seus violões a postos e o professor explica como se faz o ritmo da batida às crianças. Cada uma tem a frente uma pasta com letras de músicas cifradas que serão tocadas naquela noite. Eles tocam música do folclore gauchesco naquele momento. Chegamos anunciando que gostaríamos de observar como ocorrem ali as aulas de violão, digo que venho de Montenegro, mas trabalho na FACCAT, em Taquara, que Alexandre está me ajudando a fazer uma pesquisa por lá, etc.
Vejo a cena da aula de música iniciar e ela me parece muito familiar. O professor aponta para os mesmos aspectos que o meu próprio professor de violão apontava. Reconheço no jeito de tocar do professor algo realmente familiar. A metodologia é tradicional, mas as crianças parecem gostar daquele ambiente, pois procuram as canções nas pastas com entusiasmo. Algumas estão um pouco tímidas, em função de nossas presenças “estranhas”. Afinal, Alexandre está com a filmadora na mão e eu observo a cena atentamente. No final de uma música, o professor pára, olha para mim e me questiona: “Tu conheces o Walter Alexandre?” Respondo que sim, que é meu pai, ao que ele responde: “Tu és muito parecida com tua mãe... E este rapaz é teu irmão?”. Digo que não, mas que todos pensam que sim, pois somos realmente muito parecidos. O professor me responde: “Pois foi teu pai quem me ensinou a tocar! Ele foi meu primeiro professor de violão”.
Para mim, pesquisa significa:
Vontade de aprender, de elucidar, de descobrir os mecanismos escondidos, as causas, as interdependências;
Tarefa de abertura criativa a um caminho incerto;
Mistério estimulante, aventura intelectual;
Invenção ou adaptação de métodos de observação e análise;
A pesquisa é um modo de apropriação ativa de conhecimentos que acabam por extrapolar aqueles objetivos iniciais propostos no projeto que realizamos, como forma de mapear as coisas que se pretende descobrir. Fui procurar conhecer o ambiente de musicalização de Projetos Sociais e acabo por descobrir parte de minha própria história.
Moro há vários anos em Montenegro, mas nasci em Taquara, uma das cidades que fazem parte do Vale do Paranhana e na qual hoje trabalho. Saí de lá com apenas um ano de idade, mas sempre voltei para participar do Festival de Música “Ciranda Musical Teuto-Riograndense”. Nosso grupo Som Arte participou de todas as edições. Seu líder era o Walter Alexandre Kebach, ou seja, o papai, que além de musicalizar o professor do projeto observado em Riozinho e várias pessoas da região do Paranhana, musicalizou também toda nossa família. Na época em que morávamos em Taquara, ele tinha uma academia de música em Taquara e dava aulas particulares de música também em Rolante, cidade mais próxima de Riozinho. Foi lá que o professor do projeto se musicalizou.
Lembrei, então, que o papai aprendeu música no presídio, na época em que era guarda penitenciário, cujos detentos eram portadores de tuberculose. Foi ali, em meio a pessoas em situação de vulnerabilidade social que Walter Alexandre Kebach aprendeu a tocar violão, passatempo predileto dos detentos e dele próprio, pois sempre comentava que isso os aproximava (guarda e detentos), tornando aquele clima tão hostil em um ambiente agradável de convivência!
Saí do primeiro dia da observação de campo com uma sensação agradável de encontrar respostas muito mais profundas para as questões que me fiz inicialmente. Fico imaginando quantas surpresas a mais ainda irei ter durante esta coleta de dados, e quão ricas serão as reflexões desta pesquisa que podemos dizer que ainda se encontra em fase inicial!
É com orgulho e satisfação que digo que a musicalização do Vale do Paranhana começou dentro do seio de minha própria família e agora se expande para projetos tão nobres quanto este mapeado ontem!
Para vocês verem como este mundo dá voltas!!!
Que legal Paty! Questões familiares sempre nos emocionam, minha família também é bastante musical e me orgulho bastante disso. Imagino a tua emoção no momento.
ResponderExcluirBeijos,
Márcio
Olha, eu só fico imaginando tudo que esta pesquisa irá me proporcionar até o final...
ResponderExcluirMapeando por alto, nós já ficamos sabendo de projetos lindíssimos na região.
E sigamos ampliando nossas concepções musicais, né, meu parceirão??
Um beijo pra ti também, amigo queridíssimo!
Bah, que história, Patrícia! Deve ter sido genial. Estar em outra cidade e daqui a pouco encontrar uma ligação como essa, é realmente especial. Beijo!
ResponderExcluirThalis
A vida é um ciclo: passagens ruins, de felicidade, de motivações, agonia... que loucura tudo isso. Paty este momento foi especial e real - coisa de filme cara!
ResponderExcluirRelatar ao nosso Pai e emocioná-lo foi mais bacana ainda. Sinal de reconhecimento. É isso que nos move, apesar de não trabalharmos neste intuito, enfim, és uma pessoa bem sucedida e do bem. Por isso que recebes situações mágicas assim.
Sucesso!
Tenho orgulho de ti e te amo muito.
Mana
Thalis, nós ainda vamos ter de ver mais de perto essas questões musicais que acontecem lá no presídio "madre pelentier", né? Eu senti o quanto tu ficaste emocionado ao trabalhar por lá também!
ResponderExcluirBeijo, querido!!!
Mana, a reciproca é verdadeira: Te amo e me orgulho de ti também!!!
Que show PAty.
ResponderExcluirMe surpreendi com o teu relato Paty, vejo o quanto essas nossas aventuras pelo mundo da ciência podem nos trazer emoções diferentes e muitas vezes inesquecíveis, muito além do esperado como tu mesma dissestes. Cada vez me convenço mais que naquele dia, quando o professor Jefferson comentou a respeito da tua pesquisa, a decisão de tentar participar dela foi uma das mais felizes da minha vida...
ResponderExcluirJoão, se eu voltei para minha terra natal foi graças a ti, portanto, tu fazes parte desta história. Obrigada, meu amigo mimoso! Para sempre serei grata!!! Aliás, sinto muito a tua falta.
ResponderExcluirAlexandre, "Benzadeus" o dia que tu aceitaste participar desta pesquisa. Tu és meu braço direito e eu tenho uma mega sorte de te ter comigo realizando esta pesquisa. E ainda por cima, és meu psicólogo particular de vez em quando,né?? Hahahah... Beijo!