segunda-feira, 7 de março de 2011
A educação musical e a movimentação corporal - As ideias de Jaques-Dalcroze
O precursor de uma pedagogia específica da música no século XX é do vienense Émile Jaques-Dalcroze, que acabou se radicando na Suíça. Referimo-nos à palavra pedagogia, pois se trata, portanto, de um modelo teórico para embasar as práticas educacionais, em termos musicais. Este autor considera a educação musical, pela primeira vez do ponto de vista do sujeito, introduzindo em suas aulas o movimento corporal e a atividade reflexiva de modo consonante.
A influência indireta do movimento da Escola Nova pode ser evidenciada nos pressupostos do método de Jaques-Dalcroze chamado “Rítmica”. Ele percebeu que o erro da educação musical estava no fato de que os aprendizes não podiam experimentar sonoramente aquilo que escreviam. Naquela época, os professores de música, durante as aulas de harmonia, não deixavam que seus alunos recorressem ao teclado para verificar se aquilo que estavam registrando estava correto. Ao observar que seus alunos, durante as aulas de teoria musical, movimentavam-se, procurando mapear corporalmente determinados intervalos de duração, ou seja, não conseguiam ouvir internamente os sons que escreviam, contentando-se em aplicar as regras aprendidas ou tentando mapear intervalos com o corpo, Dalcroze começou um profundo trabalho de pesquisa. Assim, ele desenvolveu progressivamente um sistema de coordenação entre música e movimento, convencido de que a atividade corporal participava da elaboração de imagens mentais dos sons, que com o ensino tradicional não eram atingidas. Essas primeiras reflexões abrem caminho para novos pensadores aprimorarem e ampliarem o espectro de relações entre construção musical e movimento corporal.
Ele valorizou, portanto, a interação entre organismo e meio no processo de aprendizagem musical. Descobriu que as crianças deveriam aprender música desde muito cedo, para desenvolverem a capacidade de audição interior, a partir da audição e dos movimentos corporais. Sua conclusão foi a de que tudo em música, que é de natureza motriz e dinâmica, depende não somente do ouvido, mas ainda de um outro sentido, que pensou, em princípio, que fosse o tátil, pois os exercícios métricos efetuados pelos dedos ajudariam o progresso de seus alunos. Porém, constatando outros movimentos corporais que seus alunos faziam ao executar o piano, como a ajuda dos pés, oscilações do tronco e da cabeça etc., foi levado a pensar que as sensações musicais, de natureza rítmica, apóiam-se sobre músculos e nervos, ou melhor, sobre o organismo como um todo. Desse modo, Jaques-Dalcroze criou exercícios de caminhadas e paradas, entre outros, habituando seus alunos a reagir corporalmente à audição de ritmos musicais. Este foi o começo do que chamou de Rítmica.
Dalcroze abriu caminho para se pensar a prática de ensino musical de uma forma completamente inovadora. Ele chegou à conclusão de que a musicalidade unicamente auditiva é incompleta e de que existem ligações entre a mobilidade e o instinto auditivo, a harmonia dos sons e durações, entre o tempo e a energia, a dinâmica e o espaço, a música e o caráter, entre a música e o temperamento, entre a arte musical e a dança. Enfim, Dalcroze observa que existe uma dialética entre os processos e que esses possuem um caráter dinâmico. Eis suas grandes descobertas que abriram espaço para que outros pedagogos e, até mesmo, pesquisadores pensassem os processos de aprendizagem em música a partir de uma visão interacionista. Dalcroze abre, assim, espaço para as explorações vocais e instrumentais (piano e percussão), a aprendizagem rítmica através da movimentação corporais (andar, pular, saltar, correr, etc.), enfim, abre o espaço para uma educação do ouvido através do canto, do jogo e do movimento. Este pensador propunha que sentindo a música através do movimento, seus alunos fossem capazes progressivamente de tocar expressando uma maior musicalidade.
Referências:
FONTERRADA, M. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora da UNESP, 2005.
JAQUES-DALCROZE, Emile Le rythme, la musique et l’éducation. Lausanne: Foetisch Frères S. A. Éditeurs, 1919.
Duas fotos são do grupo Barbatuques.
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